terça-feira, 30 de setembro de 2008

Portugal – Curiosidade 048/2008

Fonte do texto e da imagem: História da Caricatura no Brasil, Herman Lima, 4 Volume - José Olympio Editora. 1963. – Obra portentosa; infelizmente o PK não possui o volume número 1.


CARICATURISTA PORTUGUES (TRABALHOU NO BRASIL POR MUITO TEMPO)

O português Hugo de Morais Sarmento, sobrinho de Julião Machado e há muitos anos radicado no Brasil, teve uma colaboração muito assídua em nossas revistas ilustradas, por volta de 1915, especialmente na Revista da Semana. Outro periódico a contar com o seu concurso bastante apreciável, por aquele tempo, foi Era Nova, brilhante e efêmera criação de seu tio, que demonstrou, em sua apresentação gráfica, literária e artística, o gosto requintado que o iluminurista d´Os Lusíadas sempre pos em tudo o que nos deixou.

O desenho de Hugo se caracteriza por um traço nervoso e alegre, uma caligrafia fantasiosa, a despeito de ligada sempre ao objetivismo caricatural inerente às sáatiras de costumes, no que sempre se especializou.

Fixando os exageros do nosso esporte incipiente na época, O Sábado Carioca ... ou “Labor improbus omnia vincit” (*); aspectos do nosso carnaval, ou as agruras d´O Nosso Correspondente, na Guerra de 14, são páginas de muita verve e espiritualidade, marcadas por uma fina ironia.

Filiado à caricatura francesa por temperamento, como o próprio Julião, sem que, no entanto, se lhe possa indicar qualquer influência despersonalizante, não lhe seria de todo estranha, no recorte de certas figuras, a vizinhança do mestre português, de quem, em especial certas vinhetas a aguada, duma publicação mais recente de sua autoria, mostram aqui e ali uma graciosa reminiscência.

“Diante d´O Pampilho, correrão apartados os exemplares tunantes da diplomacia langorosa, do jornalismo mercantil da industriosa justiça, da medicina rapace, do engenho decorativo e estéril, da burocracia, logo seguidos da grossa massa dos moços de esquinas garrettianas, empomadados e galãs, que o poeta chocarreiro, na antecâmara de Camoôes, passa em revista diária, das peixeiras século XII e dos Fídias e Homeros século XXXI.

“E, saltando obstáculos, os nossos centauros, em galões esforçados, ultrapassarão aquela linha imaginária e transcendente, riscada na terra a teodolito, marcada a montinhos de seixos e guardas-fiscais, falazes estorvos do espírito, que não lhe deterão incursões aos templos ONUS nem às camisarias simbólicas – azuis, pretas, verdes ou vermelhas – com que a Civilização pudibunda fraldou pressurosamente o mandarinismo ocidental, cuja essência mais recente se distilou em Nuremberg.

“Pelos gelos fundentes da steppa, a empalar Gorguloffs, Stalines, Molotovs e Litvinoffs, vampiros adeptos de hemorragias socioógicas, irão os nossos centauros, por via nova do Irão, à Índia, confraternizar com a família apostólica do espírito, tantas vezes engarrafado, de Gandhi e atingirão, através das muralhas da icterícia crônica, os pagodes de Lin Yutang e os canteiros perfumados de crisântemos que enfeitam as gueixas de Nagasáqui e Hiroxima. E, mais além ainda, pela ameaça do Pacífico, galopando pela república das oligarquias industriais dos Fords e das Crawfords, rumo ao sul, bamboleantes na corda bamba do Panamá, impávidos pelos mistérios do Amazonas, mergulharão com Momo nas ebulientes saturnais da Guanabara e irão secar ao sol argentino, nos pampas onde a tanga concebeu o tango.”

Engenheiro de profissão, hoje retirado num aprazível recanto de Petrópolis, donde raramente desce à cidade. Hugo parece ter-se agastado definitivamente da imprensa periódica. No entanto se esse artista de tanta vocação para a charge humorística não teve maior atuação nas páginas das nossas revistas ilustradas deve-se, com certeza, antes a desinteresse de sua parte do que do público, desde que as suas composições sempre se mantiveram em nível de relevo dentre as dos seus contemporâneos.

(*) Com paciência e perseverança, tudo se alcança. (Nota do PK)

ET.: Salvo engano, a Hugo Morais Sarmento se deve o desenho do 2º emblema do Clube Sporting

Um comentário:

Lothar disse...

Não só desenhou o escudo do Sporting como foi atacante do clube. No Brasil, para onde veio em 1913, ingressou no Fluminense, participando em 17/08 daquele ano da goleada de 10 a 2 sobre o Mangueira e anotando dois gols. Destacou-se também no tênis, tanto pelo Flu como pelo Tijuca Tênis Clube. Era engenheiro da Light, tendo inclusive publicado um manual para eletricistas. Nasceu em 1895, casou em 1919 com a filha do dono da fábrica de Tecidos Sapopemba e faleceu em 1968 em São Paulo.

abç.
Carlos Santoro